domingo, 12 de setembro de 2010

Do Amor - Gibran Khalil Gibran

Quando o Amor vos chamar, segui-o
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei
Embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-los
E quando ele vos falar, acreditai nele
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim
Pois da mesma forma que o amor vos coroa assim ele vos crucifica
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento trabalha para vossa poda
E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol
Assim também desce até vossas raízes e a sacode no seu apego a terra
Como feixe de trigo ele vos aperta junto ao seu coração
Ele vos debulha para expor a vossa nudez
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas
Ele vos mói até a extrema brancura
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis
Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino
Todas essas coisas o amor operará em vós para que conheçais o segredo de vossos corações
E com esse conhecimento vos convertais no pão místico do banquete divino
Todavia se no vosso temor procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor
Então seria melhor para vós que cobrisses vossa nudez e abandonasses a ira do amor
Para entrar num mundo sem estações onde rireis, mas não todos os vossos risos
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas
O amor nada dá senão de si próprio
Nada recebe senão de si próprio
O amor não possui nem se deixa possuir
Pois o amor basta-se a si mesmo
Quando um de vós ama que não diga “Deus esta no meu coração”
Mas que diga antes “eu estou no coração de Deus”
Não imagineis que possais dirigir o curso do amor pois o amor se vos achar dignos determinará ele próprio vosso curso
O Amor não tem outro desejo senão de atingir a sua plenitude
Se contudo amardes e precisardes ter desejos sejam esses os vossos desejos
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
De sangrardes de boa vontade e com alegria
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor
De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor
De voltardes pra casa à noite com gratidão
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem amado e nos lábios uma canção de bem-aventurança.

DO AMOR - RECITADO POR LETÍCIA SABATELLA



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