domingo, 10 de julho de 2011

ULTIMATUM - ÁLVARO DE CAMPOS, 1917

ULTIMATUM


" Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas, 
charlatão da sinceridade e tu da juba socialista 
e tu qualquer outro. 
Ultimatum a todos eles 
e a todos que sejam como eles, todos. 
Monte de tijolos com pretensões a casa, 
inútil luxo, megalomania triunfante
e tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral 
que nem te queria descobrir. 
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular, 
que confundis tudo!
Vós anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores 
para quererem deixar de trabalhar. 
Sim, todos vós que representais o mundo, homens altos, 
passai por baixo do meu desprezo.
Passai aristocratas de tanga de ouro, passai frouxos. 
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa descascar batatas simbólicas
fechem-me isso tudo a chave e deitem a chave fora. 
Sufoco de ter somente isso à minha volta. 
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas 
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo. 
Nenhuma idéia grande, 
nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova, a sensibilidade nova. 
O mundo tem sede de que se crie. 
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada. 
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores, 
desprezo o que seja menos que descobrir um novo mundo. 
Proclamo isso bem alto, braços erguidos, 
fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito."


ÁLVARO DE CAMPOS, 1917.


(Adaptação Maria Bethânia)



MARIA BETHÂNIA - TEXTO ULTIMATUM / MOVIMENTO DOS BARCOS


2 comentários:

  1. o poema é sem dúvidas uma obra prima, mas a interpretação de maria é extremamente fenomenal

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