sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Estrela do Dia: Nara Leão

Nara Leão


Nome: Nara Lofego Leão
Nascimento: Vitória (ES), 19 de janeiro de 1942
Morte: Rio de Janeiro (RJ), 7 de junho de 1989
Instrumentos: voz, violão
Epíteto (sempre negado por ela): Musa da bossa nova

Frases

(Em 1961, ao romper com Ronaldo Bôscoli):
"Chega de bossa nova. Chega de cantar para dois ou três intelectuais uma musiquinha de apartamento".

(Em 195, enfrentando a ditadura militar):
"Sou a mulher mais corajosa que conheço. Na intimidade, podem me chamar de Nara Coração de Leão".

(Em 1970, explicando porque não tinha mais vontade de cantar):
"Não tenho problema de competição com ninguém. Sou independente, emancipada e não me incomodo, por exemplo, de fazer tricô. Não me diminui em nada".

Fonte: Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova - texto por Ruy Castro.  



Nara Leão


Poema de autoria de Carlos Drummond de Andrade dirigido ao marechal Castelo Branco e publicado no jornal Correio da Manhã em defesa de Nara Leão durante a ditadura militar e que foi devidamente recortado pela cantora, enquadrado e colocado na sala de sua casa:

Meu honrado marechal,
dirigente da nação,
venho fazer-lhe um apelo:
não prenda Nara Leão.

Soube que a Guerra, por conta,
lhe quer dar uma lição.
Vai enquadrá-la - esta é forte -
artigo tal... não sei não.

A menina disse coisas
de causar estremeção?
Pois a voz de uma garota
abala a revolução?

Nara quis separar
o civil do capitão?
Em nossa ordem social
lançar desagregação?

Será que ela tem na fala,
mais do que charme, canhão?
Ou pensam que, pelo nome,
em vez de Nara, é leão?

Se o general Costa e Silva,
já nosso meio-chefão,
tem pinta de boa-praça,
por que tal irritação?

Ou foi alguém que, do contra,
quis criar amolação
a seu Artur, inventando
este caso sem razão?

Quem disse a mocinha, enfim,
de inspirado pelo cão?
Que é pela paz e amor
e contra a destruição?

Deus seu palpite em política,
favorável à eleição
de um bom paisano - isso é crime,
acaso, de alta traição?

E, depois, se não há preso
político na ocasião,
por que fazer da menina
uma única exceção?

Ah, marechal, compre um disco
de Nara. tão doce, tão
meigamente brasileira,
e remeta ao escalão.

Que, no palácio da Guerra,
estuda, de lei na mão,
o que diz uma cantora
dentro da (?) constituição.

Ao ouvir o que ela canta
e penetra o coração,
o que é música de embalo
em meio a tanta aflição.

O gabinete zangado,
que fez um tarantantão,
denunciando Narinha,
mudava de opinião.

De música precisamos
para pegar o rojão,
para viver e sorrir,
que não está mole, não

Nara é pássaro, sabia?
e nem adianta a prisão
para a voz que, pelos ares,
espalha sua canção.

Meu ilustre general,
dirigente da nação,
não deixe, nem de brinquedo,
que prendam Nara Leão."

Depois de telefonar para o poeta, agradecendo, Nara comentou com os amigos:
- Vale a pena comprar qualquer barulho para ganhar um poema desses.

Fonte: Livro - Nara Leão Uma Biografia - Sérgio Cabral - Lumiar Editora - páginas 114, 115 e 116.

Nara Leão

Nenhum comentário:

Postar um comentário